A aposta de que a pandemia do coronavírus daria um impulso na digitalização tanto das empresas como da sociedade como um todo parece estar se concretizando.
Depois da corrida das pequenas e médias empresas (PMEs) por softwares para o trabalho remoto (como os de videoconferência) logo no início da crise, em abril, chega a vez também dos consumidores.
Novo estudo feito pelo Capterra com 1.002 entrevistados de todas as regiões do país entre os dias 14 e 21 de julho mostra um crescimento de 32% no volume de pagamentos frequentes por dispositivos móveis entre aqueles que possuem carteiras digitais, que permitem realizar as chamadas transações contactless, instaladas nos seus celulares ou relógios inteligentes (veja metodologia completa no final do texto).
Segundo a pesquisa, 46% dos que tinham esses apps instalados afirmavam pagar regularmente produtos ou serviços usando tais aplicativos antes da crise, contra 61% desde o início da pandemia. O número dos que pagam ocasionalmente usando essa tecnologia ficou praticamente estável comparando os dois períodos (veja gráfico abaixo).
Já o número daqueles que possuem carteira digital e dizem não utilizá-la caiu 72% na comparação do período anterior à crise com o atual (de 18% para 5% dos entrevistados, respectivamente).
Este último dado tem reflexo direto no aumento da adesão ao pagamento móvel no pós-crise: entre o total de entrevistados pelo Capterra, 67% afirmavam fazer transações contactless antes da pandemia, contra 78% atualmente.
Por fim, 96% dos consumidores com uma carteira digital instalada pretendem seguir ou começar a utilizar o contactless após o fim da pandemia, confirmando a tendência de consolidação deste meio de pagamento.
Preocupação com coronavírus impulsiona pagamento móvel
Sem grande surpresa, a crise sanitária influenciou os hábitos dos consumidores que usam carteiras digitais na hora de pagar: 28% destes apontam o pagamento 100% sem contato como a maior vantagem desses aplicativos, atrás apenas dos que consideram mais seguro pagar com carteiras digitais do que com cartão de crédito (29%).
Ainda que a segurança desse tipo de transação comparada aos cartões seja vista como a principal vantagem pelos que utilizam as carteiras digitais, o medo de ataques é uma realidade.
Isso porque tanto aqueles que usam a tecnologia como os que ainda não a utilizam enxergam a questão da segurança como principal desvantagem do pagamento móvel: 70% dos entrevistados apontam as possíveis falhas de proteção que possam resultar no roubo dos seus dados como a sua principal preocupação com respeito a operações com carteira digital.
O medo do consumidor a ataques relacionados a transações bancárias não é infundado: pesquisa divulgada em junho pela Câmara de Dirigentes Lojistas em conjunto com o Serviço de Proteção ao Consumidor mostrou que em apenas 12 meses quase 9 milhões de brasileiros tiveram seu cartão de crédito clonado.
Consumidores com carteira digital acompanham crescimento do mercado
A rápida proliferação das carteiras digitais no Brasil parece estar tendo um efeito direto no comportamento do consumidor.
Segundo os dados levantados pelo Capterra, 83% do total de entrevistados afirmam ter um app do tipo instalado em seu dispositivo, dado que sobe de acordo com a faixas de renda observadas, como mostra o gráfico abaixo:
Os dados recentes sobre o crescimento do mercado brasileiro de e-wallets são contundentes. Segundo pesquisa lançada em junho pela área de Inteligência de Mercado da Globo, o Brasil tem cerca de 600 carteiras digitais disponíveis.
Atento a essa revolução nos meios de pagamento, o Banco Central (BC) lançou recentemente um projeto para modernizar o sistema financeiro nacional, o PIX, aprovado no último dia 12 de agosto e com previsão de lançamento para novembro.
Além da promessa de aposentar as velhas DOCs e TEDs para transferências bancárias, o projeto quer unificar as transações com Código QR (outro tipo de operação que vem crescendo no Brasil) e incluir em uma segunda etapa a implantação de um novo suporte para pagamentos por aproximação.
Outra prova da expansão deste mercado no país foi o anúncio do Whatsapp de testar a realização de transações dentro da plataforma para clientes de três bancos (Banco do Brasil, Nubank e Sicredi) em meados de junho, que acabou suspensa temporariamente pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) por questões ligadas à concorrência. O Banco Central agora analisa a viabilidade do serviço.
4 áreas essenciais para se preparar para o pagamento móvel
Todas essas mudanças realçam a importância de os negócios estarem preparados para uma nova realidade na forma como os consumidores pagam por produtos e serviços.
Preparar o seu negócio para a nova era do pagamento móvel que se aproxima passa por diversas áreas, com destaque para as seguintes:
- Pessoal: é preciso que os colaboradores saibam informar sobre todos os meios de pagamento aceitos e como processá-los.
- Tecnológica: como vimos, a tecnologia para pagamentos contactless ainda não é padronizada, e o BC trabalha na questão. Os negócios devem, no entanto, buscar soluções de frente de caixa e de pagamento que se adaptem às opções mais utilizadas ou que sejam as preferidas da maioria da clientela.
- Marketing: os clientes precisam saber que seu negócio aceita novas modalidades de pagamento e que está investindo na modernização.
- Segurança: como vimos anteriormente, a segurança das transações digitais é uma preocupação de grande parte dos consumidores, por isso certifique-se de que seu negócio segue todos os protocolos para evitar fraudes e informe os clientes sobre isso.
Maioria dos consumidores enxerga um futuro sem dinheiro físico
Além de traçar um panorama sobre os pagamentos com celular, o Capterra comparou a preferência do consumidor por transações em dinheiro físico com outros meios de pagamento, como cartões (incluindo o contactless).
Segundo a pesquisa, somente 18% do total de entrevistados afirmam preferir pagar usando notas e moedas (veja as demais preferência na imagem abaixo).
Ao analisar por faixas de renda, no entanto, é possível notar que os consumidores com rendas mais baixas tendem a ser menos digitais na hora da escolha do meio de pagamento preferido, como mostra o gráfico:
Segundo a pesquisa, 61% dos entrevistados afirmam ser mais provável comprar de estabelecimentos que aceitam pagamentos sem dinheiro físico do que daqueles que não.
Além disso, 67% dizem que se sentiriam confortáveis em uma sociedade sem dinheiro físico.
Como podemos observar, a adaptação dos negócios, com o impulso extra trazido pelo coronavírus, pode representar uma questão de sobrevivência para muitos negócios, seja no curto ou no longo prazo. É preciso, por tanto, estar preparado para a mudança na forma como o consumidor paga.
Metodologia
Para reunir os dados presentes neste estudo, o Capterra realizou um levantamento online entre os dias 14 e 21 de julho em que ouviu 1.002 consumidores com mais de 18 anos, de diferentes faixas de renda (até 1 salário mínimo, de 1 a 3, de 3 a 7, de 7 a 15, de 15 a 20 e mais de 20) e de todas as regiões do país. Os entrevistados deveriam ser trabalhadores em tempo integral ou parcial, freelancers/autônomos, estudantes em tempo integral, aposentados ou terem perdido o emprego durante a crise. O painel contou com 50% dos entrevistados do sexo feminino e 50% do sexo masculino. Os resultados são representativos da pesquisa, mas não necessariamente da população como um todo.